segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Ask me tomorrow


não sei como falar-te de coisas simples
inventaram um novo boletim meteorológico e já é
possível medir a temperatura das mãos mapear a rosa o frio
e o calor por entre vincos sinais de nascença e linhas de vida
a minha boca alinhada com a tua pode querer dizer muita coisa
por exemplo um anticiclone no atlântico das tuas costas ou no meridiano a sul dos teus olhos
dizem que os lagos vão congelar nos próximos dias e que será
possível as aves migratórias os levarem para outros continentes
troco os meus lagos de água doce pelos teus de água salgada queres?
eu queria contigo uma casa nos Pirinéus se fosse possível mudá-los para
o fim da minha rua
chegar-lhes ao topo como quem cresce na combustão ou degelo de outro corpo
queria falar-te de coisas simples
porque é possível decifrar o alfabeto grego ou árabe os caracteres chineses
dedilhar um alfa ou beta nas margens crispadas dos teus seios
antever a formação de ondas como quem enrola finos fios de cabelo
fala-se tanto do aquecimento global do planeta e as mãos continuam frias
como é possível não trazer os trópicos na ponta dos dedos?
eu queria contigo uma expedição ao Ártico
 tu e eu a desafiar a gravidade todos os planos
infinitos e espirais de via láctea
eu queria falar-te de coisas simples
mas o teu toque o teu toque
é já o toque de um estranho
e nós os dois
nós os dois
a sós
num quarto
com vento a nascer
de leste


                            Where is the hand that I held?


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