quinta-feira, 18 de maio de 2017
contra-mão
Eu
Em contra-mão
E já sem esperar mão nenhuma
O fecho encravado a meio das costas do vestido
Liso sobre a pele
A tatuagem desbotada
O tempo a corroer o traço
A palavra em vinco
Dobra
Ruga
O risco nos olhos
As pálpebras azuis
O minuto suspenso
quarta-feira, 19 de abril de 2017
damage
na próxima esquina há um eléctrico
podes começar aí a esquecer-te
nessa indecisão das esquinas
recolhem-se os ossos para dentro da carne
trata-se o sorriso como uma fractura exposta
e deixa-se o coração implodir
como um relampago a rasgar pele
da terra pouco se sabe
rebentam-lhe as raízes
mas há-de florir uma árvore na primavera
de tudo podia ser dito apenas isto
é esta a teoria_
o coração quebra nas esquinas
o esquecimento é fogo posto
Now I've only words
Once there was a choice
terça-feira, 21 de março de 2017
digo:
a inclinação do corpo é
sombra:
é o espaço onde a voz reduz a velocidade
.quase silêncio
/
aproxima-te
[ e tu inclinas o corpo
aproximas a mão
.toco-te?
linhas cruzadas: a luz a entrar lentamente
por fim
____________
sombra. silêncio. luz.
sexta-feira, 17 de março de 2017
Verão
Não são os mapas que antecipam o verão.
O rasgo do verde, o azul no topo dos arranha-céus,
a cidade rendida à banda sonora matinal dos pardais.
Eu queria ter acendido esta luz toda.
E ter deixado sobre a tua pele um rasto dourado.
Naquele verão, o brilho das águas, a urgência de ficar dentro de uma canção lenta...
O rasgo do verde, o azul no topo dos arranha-céus,
a cidade rendida à banda sonora matinal dos pardais.
Eu queria ter acendido esta luz toda.
E ter deixado sobre a tua pele um rasto dourado.
Naquele verão, o brilho das águas, a urgência de ficar dentro de uma canção lenta...
sexta-feira, 3 de março de 2017
candy says
podia ter escrito a canção. ou, ao menos, ter acendido o cigarro.
por vezes, é preciso salvar-se alguma coisa do dia. a tarde. ou um fio de cabelo.
What do you think I'd see
If I could walk away from me
domingo, 26 de fevereiro de 2017
Vou contar uma história. Havia uma rapariga que era maior de um lado que do outro. Cortaram-lhe um pedaço do lado maior: foi demais. Ficou maior do lado que era dantes mais pequeno. Cortaram. Ficou de novo maior do lado que era primitivamente maior. Tornaram a cortar. Foram cortanto e cortando. O objectivo era este: criar um ser normal. Não conseguiam. A rapariga acabou por desaparecer de tão cortada nos dois lados. Só algumas pessoas compreenderam.
photomaton&vox, Herberto Helder
temos então o filme, a história.
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
isto podia ser apenas um gomo de laranja
ou um desenho para dizer sul
ou vento nos cabelos para dizer norte
isto podia ser apenas um papel dobrado
ou o sublinhado na página 45 de um livro
esquecido na estante
isto é hoje
20 de fevereiro de 2017
e isto sou eu a confundir
mãos e azul
natural blue
sábado, 4 de fevereiro de 2017
despropositada a chuva
contra o vidro
dentro, o vazio dos cinzeiros
um relógio na parede
certo duas vezes ao dia
a chave caída sobre a mesa
-- ruído
o peixe asfixiado no aquário
e sei isto agora
isto de não me caber dentro
tão bem quanto soubeste caber em mim
*cover Angus&Julia Stone//I'm not yours
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Podia ser o lugar.
O lugar já sem ferida.
Sem nó.
O lugar das mãos.
Do silêncio.
Das árvores.
[É despropositada a voz.
domingo, 22 de janeiro de 2017
De onde partir para os dias?*
back in 1995
we thought we were standing on the threshold
to the end of time
(and we still do)
so what’s wrong with living in the past?
we thought we were standing on the threshold
to the end of time
(and we still do)
so what’s wrong with living in the past?
[*miguel cardoso, víveres
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
Ask me tomorrow
não sei como falar-te de coisas simples
inventaram um novo boletim meteorológico e já é
possível medir a temperatura das mãos mapear a rosa o frio
e o calor por entre vincos sinais de nascença e linhas de vida
a minha boca alinhada com a tua pode querer dizer muita coisa
por exemplo um anticiclone no atlântico das tuas costas ou no meridiano a sul dos teus olhos
dizem que os lagos vão congelar nos próximos dias e que será
possível as aves migratórias os levarem para outros continentes
troco os meus lagos de água doce pelos teus de água salgada queres?
eu queria contigo uma casa nos Pirinéus se fosse possível mudá-los para
o fim da minha rua
chegar-lhes ao topo como quem cresce na combustão ou degelo de outro corpo
queria falar-te de coisas simples
porque é possível decifrar o alfabeto grego ou árabe os caracteres chineses
dedilhar um alfa ou beta nas margens crispadas dos teus seios
antever a formação de ondas como quem enrola finos fios de cabelo
fala-se tanto do aquecimento global do planeta e as mãos continuam frias
como é possível não trazer os trópicos na ponta dos dedos?
eu queria contigo uma expedição ao Ártico
tu e eu a desafiar a gravidade todos os planos
infinitos e espirais de via láctea
eu queria falar-te de coisas simples
mas o teu toque o teu toque
é já o toque de um estranho
e nós os dois
nós os dois
a sós
num quarto
com vento a nascer
de leste
Where is the hand that I held?
quarta-feira, 11 de janeiro de 2017
I remember
I remember the tone the sunlight made
reflecting as it did
that first breath of late night morning aim
the feeling that here was anywhere
and anywhere was kind
plumes of smoke funnel overland and meet us there
as though our late night tales joined to feed our breathing
and each breath kept golden remnants of a fireside tale inside
safe but boundless
to hang like bubbles over us with each completed breath
not born or dying, but reassembling the very air
a ceiling to our meaning, or spring for new sounds to bound from
no essential measure of beginning or belief
no escape and no relief, but safe
safe as shapeless
shapeless on a turning wheel of casting possibilities that change the wheel
the tick becomes imagined and steel to silk
reflecting as it did
that first breath of late night morning aim
the feeling that here was anywhere
and anywhere was kind
plumes of smoke funnel overland and meet us there
as though our late night tales joined to feed our breathing
and each breath kept golden remnants of a fireside tale inside
safe but boundless
to hang like bubbles over us with each completed breath
not born or dying, but reassembling the very air
a ceiling to our meaning, or spring for new sounds to bound from
no essential measure of beginning or belief
no escape and no relief, but safe
safe as shapeless
shapeless on a turning wheel of casting possibilities that change the wheel
the tick becomes imagined and steel to silk
quinta-feira, 5 de janeiro de 2017
_______
Fala-me de peixes e da sua respiração debaixo de água
Ou fala-me dos teus olhos da praia onde a lonjura das mãos são corais
O corpo coberto de algas velcro verde e viscoso
Fala-me disso das areias que se guardam na dobra da pele
–os teus olhos são verdes, ou não?.
faz frio. Juro que sim. mas olha, desenha-me círculos que eu não sei
e no fim conto os dedos das mãos e subtraio os teus somados aos meus
mas não te esqueças fala-me de peixes
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